Nos últimos anos, a China vem enfrentando uma crescente série de tragédias envolvendo a queda de pontes e desabamentos de estradas.
O fato vem colocando em xeque sobretudo a segurança de sua infraestrutura. O colapso de várias pontes e vias expressas, resultando em mais de 100 mortes, vem gerando uma onda de questionamentos sobre a qualidade da construção dessas obras e sobre a gestão do setor.
O conceito de “projeto tofu-dreg”, introduzido pelo ex-primeiro-ministro chinês Zhu Rongji em 1998, voltou a ganhar destaque. No entanto, esse tipo de projeto vem refletindo a fragilidade e os custos humanos. Isso porque trata-se de um modelo de construção acelerado, mas de baixa qualidade, amplamente associado a práticas de corrupção e desleixo na fiscalização.
O “Tofu-dreg” e a trágica realidade da infraestrutura chinesa
O termo “projeto tofu-dreg” se originou da comparação feita por Zhu Rongji entre construções de baixa qualidade e o tofu, um alimento à base de soja que, quando mal preparado, se desintegra facilmente. Desde sua criação, o termo tem sido utilizado para descrever os projetos de infraestrutura chineses que, apesar de impressionarem visualmente, carecem de qualidade estrutural. Esse problema se tornou particularmente evidente após o devastador terremoto de Sichuan, em 2008, onde muitos prédios, especialmente escolas, desabaram devido à construção apressada e à utilização de materiais inadequados.
Na ocasião, cerca de 20.000 crianças perderam suas vidas em edifícios mal projetados, o que gerou um clamor nacional por melhorias na segurança das construções no país.
Recentemente, o conceito de “projeto tofu-dreg” voltou à tona com uma série de colapsos, incluindo o desabamento de pontes e rodovias que causaram inúmeras mortes. A tragédia mais recente ocorreu em 14 de agosto de 2024, quando uma ponte construída na década de 1960 desabou, seguida por uma série de outros colapsos em todo o país.
O colapso das pontes: uma preocupante frequência
A queda das pontes tem se tornado uma das principais causas de mortes e acidentes na China, especialmente em áreas propensas a desastres naturais. Em julho de 2024, o colapso de uma ponte rodoviária na província de Shaanxi resultou na morte de pelo menos 38 pessoas, com 24 desaparecidos. A ponte caiu após chuvas torrenciais e inundações repentinas, levando consigo veículos e causando uma tragédia de grandes proporções. Poucas semanas antes, em outro incidente, uma ponte que atravessava um rio no sul da China desabou devido a deslizamentos de terra, resultando em duas mortes e dezenas de desaparecidos.
Esses colapsos compartilham uma raiz comum: a qualidade duvidosa da construção. Em muitos desses projetos, os custos de construção foram reduzidos devido a práticas de corrupção. Assim, as empreiteiras escolhem os materiais de construção com base no menor preço, em vez de garantir a segurança e a durabilidade das estruturas. Esse fenômeno é exacerbado por uma cultura local de crescimento rápido e pressões para concluir projetos a tempo de celebrar marcos políticos ou econômicos, o que muitas vezes compromete os padrões de construção.
Corrupção e o impacto nas construções
A corrupção tem sido uma das principais responsáveis pelos problemas de qualidade nas construções chinesas. Em um sistema onde contratos são frequentemente atribuídos a empresas com laços políticos em vez de critérios técnicos, a negligência na fiscalização e a falta de investimento em materiais e mão de obra adequados se tornam normais.
Além disso, o modelo de crescimento local baseado em grandes projetos de infraestrutura coloca os governos locais sob pressão para entregar resultados rápidos. Muitas vezes, isso significa que a qualidade da construção fica em segundo plano em nome sobretudo do progresso econômico. Isso resulta principalmente em estruturas precárias e propensas a desabamentos.
Enquanto os desastres continuam a acontecer, resta saber se a China será capaz de reformar seu setor de construção e, principalmente, evitar novas tragédias. O caminho para a melhoria exigirá uma mudança cultural drástica, onde se priorize sobretudo a qualidade e a segurança em detrimento de um crescimento rápido e impensado.