A construção do megaporto de Chancay, ao norte de Lima, reflete o crescente investimento e presença da China na América Latina. Financiado pelo governo chinês, o porto é uma das maiores obras de infraestrutura do Peru e será inaugurado em 14 de novembro pelo presidente chinês Xi Jinping e pela presidente peruana Dina Boluarte, durante a cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec).
O porto profundo de 18 metros contará com quatro atracadores em sua primeira fase. A expansão total do projeto prevê 15 cais e um investimento de US$ 3,5 bilhões (R$ 19,1 bilhões), cobrindo uma área de 141 hectares. Esse terminal marítimo poderá receber navios de até 24 mil contêineres, com um milhão de unidades movimentadas no primeiro ano, segundo a concessionária Cosco Shipping Ports.
Chancay como centro logístico da América do Sul
Localizado a 80 quilômetros de Lima, Chancay tem o potencial de se tornar o principal centro logístico entre a América do Sul e a Ásia. Gonzalo Ríos, vice-diretor da Cosco Shipping Ports Peru, destaca que o megaporto pode transformar o Peru em um hub exportador.
A gigante COSCO, que adquiriu 60% da empresa peruana responsável pelo porto em 2019, escolheu Chancay por sua localização estratégica no centro da América do Sul.
Primeiro porto da China na América do Sul a ser usado como “Rota da Seda”
Para Nova Rota da Seda lançada por Xi Jinping em 2013, o porto é o primeiro da China na América do Sul. A nova infraestrutura permitirá rotas diretas para a China, reduzindo o tempo de transporte em até 20 dias, comparado ao processo atual, que leva de 35 a 40 dias.
Impacto econômico e geopolítico no transporte marítimo, considerado a Singapura da América Latina
O megaporto de Chancay reduzirá os custos de transporte para países como Peru, Chile, Colômbia, Equador e Brasil, que poderão evitar portos dos EUA e México para o comércio com a Ásia. Segundo a Cosco Shipping Ports, a eficiência do porto trará economias significativas para exportadores regionais.
O ministro dos Transportes peruano, Raúl Pérez, acredita que Chancay poderá se tornar a “Singapura da América Latina”, elevando o comércio marítimo sul-americano a um novo nível de competitividade.
China: uma parceria estratégica na América Latina
A inauguração de Chancay, além do impacto econômico, reforça a presença chinesa na região, favorecendo sua influência sobre os EUA, como observa Francisco Belaunde, professor de Direito Internacional. A China, com esse mega investimento, se posiciona como um parceiro estratégico na América Latina.
Desafios ambientais e sociais: riscos à fauna marinha
O megaporto enfrenta críticas de moradores e ambientalistas. A cidade de Chancay, com 57 mil habitantes, nunca foi planejada para um grande centro portuário. Miriam Arce, comerciante local, teme os impactos do intenso tráfego de caminhões e navios sobre a pesca e a agricultura.
Ambientalistas apontam riscos à fauna marinha. O biólogo Antony Apeño, da ONG CooperAcción, afirma que a escavação subaquática alterou o ecossistema marinho, forçando a migração de diversas espécies.
Esse projeto simboliza o avanço da China na América Latina e promete grandes mudanças econômicas e geopolíticas, embora traga também desafios para a preservação ambiental e a vida das comunidades locais.