No coração do Nordeste brasileiro, um achado extraordinário marcou para sempre a história da mineração: uma esmeralda colossal de quase 400 kg, avaliada em impressionantes R$ 1,9 bilhão. Batizada de Esmeralda Bahia, essa pedra monumental emergiu da terra em 2001, na região da Serra da Carnaíba, Bahia.
No entanto, o que deveria ser um marco de orgulho nacional logo se transformou em uma saga repleta de mistérios, traições e disputas judiciais internacionais.
A incrível descoberta da Esmeralda Bahia
A esmeralda, com tamanho equivalente ao de um frigobar, foi encontrada por garimpeiros locais que, atônitos diante de sua magnitude, não conseguiram determinar seu valor real. Certo apenas de que se tratava de uma fortuna, o achado rapidamente chamou a atenção de comerciantes, investidores e, mais tarde, de tribunais. O que começou como uma descoberta histórica logo se tornou um emaranhado de acusações e incertezas sobre sua posse.
Enquanto a pedra despertava cobiça, surgiram diferentes versões sobre sua origem e venda. Com a disputa se espalhando por vários países, o destino da esmeralda tornou-se uma questão diplomática e judicial, culminando em um julgamento decisivo nos Estados Unidos.
História cinematográfica da Esmeralda Bahia é marcada por mentiras, traições e até um furacão
A Esmeralda Bahia foi extraída e inicialmente comercializada na Bahia, mas logo seguiu um percurso cheio de reviravoltas. Uma das versões mais conhecidas da história aponta que um comerciante local, Darcy Carvalho, teria adquirido a pedra por apenas R$ 10 mil e posteriormente vendido por R$ 45 mil.
Outra versão, apresentada nos tribunais americanos, envolve os comerciantes Elson Ribeiro e Ruy Saraiva Filho, que alegaram ter transportado a gema até São Paulo e vendido para o americano Anthony Thomas por cerca de R$ 190 mil. No entanto, segundo Thomas, a pedra jamais foi entregue.
A versão de Thomas inclui um intermediário, o americano Keneth Conetto, que afirmou que a pedra teria sido roubada durante o transporte no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. A situação tomou um rumo ainda mais dramático quando o Furacão Katrina, em 2005, entrou na história.
Descoberta em Las Vegas foi um ponto de virada na saga da esmeralda
Após o suposto roubo, a esmeralda teria sido levada a Nova Orleans, onde ficou guardada em um cofre subterrâneo. Com a passagem do Furacão Katrina, o cofre foi inundado, deixando a pedra perdida temporariamente. Mergulhadores conseguiram resgatá-la, mas ela acabou caindo nas mãos de mafiosos, que a transportaram para Las Vegas. Em 2008, a esmeralda foi localizada por dois detetives americanos, Mark Gayman e Scott Miller. Na época, a pedra estava em posse de diversas partes, todas reivindicando propriedade.
A descoberta em Las Vegas foi um ponto de virada na saga da esmeralda. Ela foi transferida para Los Angeles, onde permaneceu em um cofre, guardada como um tesouro em disputa. Anthony Thomas, que acreditava ser o legítimo proprietário, acusou Conetto de roubo e alegou que este destruiu documentos que comprovariam sua compra, inclusive incendiando sua casa.
Brasil reivindicou a posse da pedra, argumentando que ela havia sido extraída ilegalmente do território nacional e contrabandeada para os Estados Unidos
O Brasil também entrou na disputa. Em 2011, o governo brasileiro, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), reivindicou a posse da pedra, argumentando que ela havia sido extraída ilegalmente do território nacional e contrabandeada para os Estados Unidos. A AGU contratou um advogado americano para intervir no caso, buscando recuperar o tesouro nacional.
De acordo com Marconi Costa Melo, diretor do Departamento Internacional da AGU, o comércio ilegal de bens minerais é um problema recorrente. Ele destacou que muitas vendas ocorrem sem registros oficiais e por valores ínfimos, algo que foi evidente no caso da Esmeralda Bahia. Além de recuperar a pedra, o Brasil buscava dar um exemplo ao coibir práticas semelhantes no futuro.
Apesar dos esforços do governo brasileiro, a justiça americana decidiu em 2015 que a Esmeralda Bahia pertencia à empresa FM Holdings, encerrando oficialmente a disputa judicial. A decisão foi um duro golpe para o Brasil, que perdeu a chance de recuperar um patrimônio avaliado em bilhões de reais.
A FM Holdings alegou ter adquirido a pedra em Las Vegas em 2009, apresentando documentos que corroboravam sua compra. Para muitos, o julgamento representou o fim de uma odisseia cinematográfica, mas deixou claro o impacto das lacunas na fiscalização do comércio mineral brasileiro.
De quem é a esmeralda de quase 400 kg que causou uma revolução na mineração do Brasil?
A trajetória da Esmeralda Bahia reúne todos os elementos de um grande filme: mistério, intriga, catástrofes naturais e disputas judiciais. O fato de uma pedra tão valiosa ter sido encontrada no Brasil e ter se tornado o centro de uma batalha internacional é emblemático da complexidade do comércio de bens minerais.
Embora o Brasil tenha perdido a disputa, a história da Esmeralda Bahia é um lembrete poderoso das riquezas ocultas do país e das falhas que permitem que tesouros nacionais sejam levados ao exterior. Para os garimpeiros que a descobriram, talvez tenha sido apenas mais um dia de trabalho. Mas, para o mundo, essa esmeralda permanece como um símbolo de uma riqueza que transcende fronteiras e levanta questões sobre propriedade e justiça.
A Esmeralda Bahia, com seus quase 400 kg, é uma pedra preciosa que criou uma narrativa de ambição, conflitos e mistérios que atravessam continentes. Do interior da Bahia às cortes dos Estados Unidos, sua jornada reflete tanto as oportunidades quanto os desafios que acompanham as riquezas minerais brasileiras.
Mesmo sem ser um triunfo para o Brasil, sua história continua a fascinar o público, provando que algumas descobertas são muito mais do que um achado arqueológico — são verdadeiras aventuras que ficam para a história.