A formação de um novo arranjo geopolítico está moldando o cenário internacional, com impactos profundos na estabilidade global. O chamado “Eixo das Ditaduras” reúne Rússia, China, Irã e Coreia do Norte em uma aliança que desafia as regras e instituições que sustentam a ordem mundial liderada pelo Estados Unidos e o Ocidente. Essa convergência de potências revisionistas está transformando a dinâmica global, unindo interesses estratégicos, militares e econômicos em uma coalizão informal, mas poderosa.
Um episódio emblemático dessa cooperação ocorreu em 2 de janeiro de 2024, quando forças russas realizaram um devastador ataque de mísseis contra Kiev e Kharkiv, na Ucrânia. A ofensiva matou pelo menos cinco civis, feriu mais de 100 e agravou a já frágil infraestrutura ucraniana. No entanto, o ataque não foi notável apenas pela destruição causada: ele evidenciou a colaboração entre os países do eixo.
Papel de China, Irã e Coreia do Norte no suporte à Rússia
A Rússia utilizou mísseis equipados com tecnologia chinesa, drones fornecidos pelo Irã e armamentos enviados pela Coreia do Norte. Desde o início da invasão em 2022, Moscou tem usado mais de 3.700 drones projetados pelo Irã, fabricando atualmente cerca de 330 unidades por mês em parceria com Teerã.
Coreia do Norte já enviou mais de 25,5 milhões de projéteis de artilharia e mísseis balísticos à Rússia, enquanto a China emergiu como a principal aliada econômica de Moscou, comprando volumes recordes de petróleo e gás e fornecendo semicondutores, dispositivos eletrônicos e peças de caça a jato.
Cooperação entre os quatro países acelerou exponencialmente desde a invasão da Ucrânia, fortalecendo os laços militares, políticos e econômicos e criando um novo polo de poder revisionista no cenário internacional.
China e Rússia desafiam os Estados Unidos na reconfiguração da ordem mundial
Embora cada membro do eixo tenha seus próprios interesses estratégicos, eles compartilham um objetivo comum: enfraquecer a liderança global dos Estados Unidos e redesenhar a ordem mundial para atender a seus interesses nacionais. A Rússia busca recuperar influência sobre os países que compunham o antigo Império Russo e a União Soviética, enquanto a China visa consolidar seu domínio no Mar do Sul da China e em Taiwan.
China, Rússia, Irã e Coreia do Norte: exercícios militares e expansão de influência estratégica
O Irã quer expandir sua influência regional por meio de grupos aliados, como o Hezbollah e o Hamas, enquanto a Coreia do Norte trabalha para afirmar sua presença na península coreana e fortalecer sua capacidade nuclear. Mesmo diante de diferenças históricas e desconfianças mútuas, os quatro países têm encontrado maneiras de alinhar suas ações.
Exercícios militares conjuntos entre Rússia, China e Irã no Golfo de Omã, realizados nos últimos três anos, são um exemplo dessa coordenação. A proposta de exercícios navais trilaterais com a Coreia do Norte demonstra a disposição de expandir a colaboração militar.
Interesses econômicos da Rússia e China fortalecem a aliança e minam o dólar americano
Os interesses econômicos também desempenham um papel crucial. A Rússia substituiu a Arábia Saudita como principal fornecedor de petróleo da China, enquanto o comércio bilateral entre Moscou e Pequim atingiu um recorde de US$ 240 bilhões em 2023. O Irã e a Rússia têm conduzido transações em moedas locais, minando a influência do dólar americano.
O eixo desafia sanções e redefine alianças globais
A colaboração entre os membros do eixo não se limita às esferas militar e econômica. No campo diplomático, eles têm desafiado as sanções ocidentais e enfraquecido a pressão internacional sobre questões como os programas nucleares do Irã e a invasão da Ucrânia. A China, por exemplo, evitou condenar explicitamente as ações russas, facilitando a neutralidade de países da África, América Latina e Oriente Médio.
Narrativas coordenadas e rivalidades internas no eixo das ditaduras
O eixo tem utilizado estratégias informacionais para moldar narrativas globais. A mídia estatal do Irã e da Rússia, bem como meios de comunicação chineses, têm propagado mensagens que culpam o Ocidente por conflitos como a guerra na Ucrânia e a crise em Gaza. Essa abordagem coordenada aumenta o impacto dessas narrativas em regiões já inclinadas a desconfiar do Ocidente.
A aliança informal entre os quatro países também enfrenta desafios internos. Disputas por mercados de petróleo, rivalidades por influência regional e um histórico de desconfianças limitam o potencial dessa coalizão. No entanto, essas diferenças ainda não foram suficientes para comprometer o objetivo comum de enfraquecer a liderança americana e criar um sistema multipolar.