Uma discussão virtual entre o antropólogo Piero Leirner e seguidores em sua rede social revela uma possibilidade surpreendente. Para o estudioso, autor de vários livros sobre os militares das Forças Armadas, “nem golpe de República de Banana Caribenha é tão mal preparado” e “tem uma montanha que está encoberta por um rato, que está na frente da lente desse telescópio”.
Doutor em Antropologia pela USP e Professor Titular do departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSCar, Leirner ao longo dos últimos anos tem explorado a tese do partido militar tentando controlar dinâmicas políticas no Brasil e tem trazido uma perspectiva única sobre os fatos, explorando as possíveis dinâmicas subjacentes e questionando as narrativas, que para ele podem ser ardilosamente impostas como dominantes.
“… nem golpe de República de Banana Caribenha é tão mal preparado” … “tem uma montanha que está encoberta por um rato, que está na frente da lente desse telescópio”.
Planos paralelos e falhas simplórias
Leirner propõe a possível existência de planos distintos nos eventos investigados. Segundo suas análises, enquanto um desses planos fracassou, possivelmente de propósito, o outro, possivelmente mais amplo e ainda não inteiramente revelado, poderia envolver atores além dos apontados diretamente nos relatórios da Polícia Federal.
A teoria abre espaço para a hipótese de que as ações não se limitariam ao grupo identificado, mas poderiam incluir uma rede mais ampla de participantes, mais ações e até uma grande mente que controla tudo.
Os documentos fornecidos pela Polícia Federal e Ministério Público detalham como ações planejadas com técnicas militares avançadas, incluindo anonimização e uso de “telefones frios”, estavam voltadas ao monitoramento de ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes. Em particular, o evento conhecido como “Copa 2022” evidencia um planejamento minucioso para um possível sequestro ou prisão ilegal de Moraes, com o uso de codinomes e veículos despersonalizados para dificultar a identificação dos envolvidos.
Crítica às narrativas extremamente simples, caso Riocentro
Leirner destaca que a ausência de uma narrativa crível por parte dos executores levanta dúvidas sobre a verdadeira intenção por trás das ações. Em interações nas redes sociais, ele e seus seguidores comparam os acontecimentos recentes com episódios históricos marcados por erros de execução e intenções obscuras, como o caso Riocentro, nos anos 1980.
Essa linha de raciocínio, interessante, sugere que a aparente “incompetência” poderia ser intencional, um “rato encobrindo a montanha” para proteger figuras-chave, enquanto culpados menores — os chamados “bois de piranha” — assumem o ônus.
Uma rede de operações militares e políticas
Os documentos investigativos indicam que as ações planejadas contavam com o envolvimento de figuras com treinamento em Forças Especiais, sugerindo uma coordenação sofisticada, mas ao mesmo tempo revelando erros simplórios. As operações incluíram vigilância do itinerário do Ministro Alexandre de Moraes, números cadastrados com nomes fictícios, ações na véspera de eventos importantes, a utilização de veículos militares para fins ilícitos e situações estranhas como a dificuldade de movimentação por falta de taxis disponíveis no Distrtito Federal e uma fotografia com o dedo indicador de um oficial, facilitando sua identificação.
A interação no “X” indica que Leirner, portanto, desconfia que os elementos conhecidos até agora podem ser apenas a ponta de um iceberg. Ele argumenta que as articulações podem ter contado com o aval ou a omissão de setores de comando mais elevados, ainda protegidos pelas lacunas das investigações.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar