A evasão de oficiais de carreira das Forças Armadas, incluindo engenheiros, pilotos e médicos, tem ganhado os holofotes. Segundo publicado pela Revista Sociedade Militar, um número crescente de militares de alto status tem pedido demissão, citando baixos salários, rotina extenuante e perspectiva de aumento no tempo de serviço. Enquanto isso, a Folha de São Paulo revela um dado intrigante: 12.681 militares inativos foram contratados para funções administrativas e de assessoria, em um modelo que gera R$ 800 milhões em gastos anuais.
Contratações e custos elevados
O levantamento da Folha, com base na Lei de Acesso à Informação, mostra que 7% dos militares da reserva ou reformados foram contratados como PTTCs (prestadores de tarefa por tempo certo). Eles recebem um adicional de 30% nos salários, elevando a remuneração média para R$ 22.694 e, em alguns casos, alcançando até R$ 47 mil. O modelo é amplamente utilizado pelo Exército, com 6.190 contratações, seguido pela Marinha (3.598) e Força Aérea (2.893).
O custo desses contratos é menor que o de manter militares da ativa, segundo as Forças, que justificam o modelo como forma de mitigar o déficit de pessoal e aproveitar a experiência acumulada dos inativos. “A medida assegura presença de profissionais experientes para o cumprimento de atribuições estratégicas”, destacou a Marinha em nota.
Oficialidade versus reserva
A disparidade chama atenção. Os oficiais de carreira, formados em cursos como a AMAN e a Escola Naval, cuja formação demanda anos e altos investimentos públicos, enfrentam condições de trabalho desestimulantes, segundo informou a Revista Sociedade Militar. Já os militares inativos, contratados sem processos seletivos, desfrutam de benefícios como salários robustos e contratos renováveis por até 10 anos.
Embora as Forças Armadas neguem a divulgação detalhada das funções desempenhadas pelos PTTCs por questões de segurança, a Folha apurou que parte dos contratados ocupa cargos em áreas de ensino, saúde e assessoramento, incluindo órgãos como o STM e o Ministério da Defesa.
Contexto político
Entre os contratados, figuram nomes de destaque, como o general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Jair Bolsonaro, e o almirante Carlos Alfredo Vicente Leitão. Esses vínculos levantam questionamentos sobre a transparência e critérios na escolha de inativos.
Enquanto o governo Lula promove ajustes em benefícios militares para conter despesas, a contratação de PTTCs permanece intocada. O contraste entre a saída de oficiais de carreira e a ampliação do quadro de inativos contratados reflete um cenário complexo, onde as prioridades das Forças Armadas parecem dividir opiniões e recursos.