Imagens de satélite capturadas no início de outubro por Planet Labs indicam que a Coreia do Norte está expandindo um importante complexo militar usado para fabricar mísseis balísticos de curto alcance. Localizada em Hamhung, a segunda maior cidade do país, a instalação conhecida como “fábrica 11 de fevereiro” seria responsável pela produção do míssil Hwasong-11, chamado de KN-23 no Ocidente. Esses armamentos têm sido utilizados pela Rússia nos ataques à Ucrânia, reforçando os laços militares entre os dois países.
O complexo faz parte do Ryongsong Machine Complex, onde uma série de melhorias está em andamento. Entre as mudanças, destacam-se a construção de um novo prédio de montagem de mísseis, maior do que o anterior, e uma estrutura habitacional destinada a trabalhadores. De acordo com o James Martin Center for Nonproliferation Studies (CNS), entradas de áreas subterrâneas também estão sendo modernizadas, o que sugere um aumento significativo na produtividade da fábrica.
A ampliação ocorre em um momento de estreitamento das relações entre Rússia e Coreia do Norte. Após um encontro de cúpula realizado em junho, os dois países assinaram um tratado de cooperação militar, que inclui a transferência de armamentos e tecnologia. Esse pacto, somado às evidências captadas por satélites, levanta preocupações na comunidade internacional sobre o impacto desse fortalecimento no cenário geopolítico.
Em 2023, a mídia estatal norte-coreana divulgou imagens de Kim Jong Un inspecionando o complexo em Hamhung, que na época produzia componentes para mísseis, como kits de cauda e cones frontais. Historicamente, a instalação já fabricou desde rodas de tanques até carcaças de motores de foguetes. Com a expansão, a produção do KN-23, testado pela primeira vez em 2019 e projetado para evitar sistemas antimísseis, está sendo intensificada.
A agência de notícias estatal KCNA confirmou que os trabalhos na fábrica estão alinhados a um plano de modernização previsto para ser concluído ainda este ano. As reformas incluem reconstruções nos equipamentos de produção, além de melhorias nas oficinas de montagem e fundição de aço. Especialistas acreditam que essas mudanças visam aumentar a eficiência e o sigilo das operações no local.
Analistas da SI Analytics, empresa sul-coreana especializada em imagens de satélite com tecnologia de inteligência artificial, também apontaram que parte da nova construção parece ter o objetivo de dificultar a observação de atividades futuras por satélites estrangeiros. Veículos e materiais de construção vistos no local indicam que o trabalho está avançando rapidamente.
Michael Duitsman, pesquisador do CNS, afirmou que a nova estrutura poderia servir como depósito, mas é mais provável que se trate de um prédio para montagem de mísseis. A análise reforça a hipótese de que a Coreia do Norte busca expandir sua capacidade de produção militar em cooperação com a Rússia.
Embora os mísseis norte-coreanos representem uma pequena fração dos ataques russos à Ucrânia, seu uso preocupa autoridades em Seul e Washington. Esse desenvolvimento sinaliza o fim de quase duas décadas de consenso entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que buscavam limitar o programa balístico de Pyongyang.
As implicações dessa colaboração entre Coreia do Norte e Rússia vão além do conflito na Ucrânia. O avanço da infraestrutura militar norte-coreana, alimentado por uma aliança estratégica com Moscou, pode alterar os equilíbrios de poder na Ásia e além.
Com informações de: ilgiornale