O dólar em alta: quando o mercado se cansa das promessas
Era só uma questão de tempo. Nesta quinta-feira (28/11), o dólar finalmente quebrou a barreira simbólica dos R$ 6. O fato escancara o desconforto do mercado financeiro com o pacote de medidas econômicas anunciado pelo governo Lula. As propostas, que incluíram a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e cortes de gastos em R$ 70 bilhões até 2026, rapidamente receberam o rótulo de “populistas”.
O mercado não comprou o discurso. A reação foi clara: desconfiança e apostas em um cenário fiscal ainda mais complicado.
Ministros defendem; mercado aponta o dedo
Enquanto o dólar disparava, a equipe econômica do governo entrou em modo de contenção de danos. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, saiu em defesa do pacote O ministro afirma que as reformas visam manter sobretudo o equilíbrio fiscal. Já Rui Costa, ministro da Casa Civil, optou por culpar setores do mercado, acusando-os de divulgar “notícias falsas” para inflar artificialmente a cotação da moeda americana.
Mas o discurso não convenceu muita gente. Investidores e economistas criticaram a falta de medidas que efetivamente atacassem os problemas estruturais, como o desequilíbrio das contas públicas.
Oposição: críticas e memes para todos os gostos
A oposição não perdeu tempo. Deputados como Eduardo Bolsonaro e Kim Kataguiri usaram principalmente as redes sociais para atacar o governo. Ambos atribuíram o aumento do dólar à “incompetência” e ao “populismo econômico” de Lula.
Eduardo Bolsonaro foi direto ao ponto, lembrando o impacto imediato na vida dos brasileiros. De acordo com o deputado, a alta de produtos básicos importados, como o trigo, é especialmente grave. Kim Kataguiri, em um tom mais ácido, chamou o plano de Haddad de “farsa”. Kataguiri ainda afirmou que o governo carece principalmente de coragem para cortar gastos onde realmente importa.
E claro, não faltaram memes. Comparações com a Venezuela inundaram as redes, pintando um cenário de caos econômico.
PT e o Banco Central: Gleisi contra-ataca alta do dólar
No meio da tempestade, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, decidiu mirar em outro alvo: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em suas redes sociais, Gleisi acusou Campos Neto de negligência, criticando sobretudo a falta de intervenção para conter a especulação cambial.
De acordo com Gleisi, a alta do dólar não é apenas resultado de políticas fiscais questionáveis, mas também de uma “inação criminosa” do Banco Central. Segundo a presidente do PT, o BC poderia ter utilizado instrumentos como leilões de swap cambial para estabilizar a moeda.
O impacto do dólar para o brasileiro comum: inflação e mais aperto no bolso
A cotação recorde do dólar não é só um problema para investidores. Para o consumidor, os efeitos já estão à vista: aumento nos preços de importados, combustíveis e insumos que afetam toda a cadeia produtiva. Com o IPCA já acima da meta, a alta da moeda americana adiciona mais pressão à inflação.
O governo tenta defender suas políticas como passos necessários para modernizar o sistema tributário e estabilizar a economia. Mas no curto prazo, o que se vê é um mercado desconfiado, uma oposição em polvorosa e, claro, um consumidor que sente cada vez mais o peso no bolso.
Essa marca histórica não é só um número. É um reflexo das tensões políticas e econômicas que continuam a desafiar o governo Lula. Resta saber se as promessas de equilíbrio fiscal e modernização tributária serão suficientes para reverter o clima de pessimismo ou se o dólar continuará subindo, se tornando um lembrete diário do descontentamento do mercado e da insatisfação do povo.