Russos estão usando de métodos como tortura sexual e estupro como arma de guerra. Casos são subnotificados por medo, vergonha e estigmas.
De acordo com relatórios da ONU, casos de tortura sexual ainda não recebem reconhecimento suficiente da comunidade internacional.
O silêncio que esconde o horror
Imagine carregar um fardo que ninguém quer ouvir. Homens ucranianos detidos por forças russas estão enfrentando algo além da violência física. São inúmeros casos de estupros e torturas sexuais sistemáticos, usados sobretudo como método de humilhação e controle. A ONU alerta que esses crimes, já subnotificados, escondem números ainda mais alarmantes, enterrados sob camadas de estigma e vergonha.
Oficialmente, são 114 casos relatados desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022. Extraoficialmente? Esses números podem ser dez, vinte vezes maiores.
Uma guerra que atinge até a alma
Não é só o corpo que sofre. A tortura sexual de homens destroi principalmente a dignidade, esmaga a psique e transforma a própria identidade em arma contra si mesmo. De acordo com relatórios da ONU, há centenas de testemunhos de prisioneiros ucranianos que passaram por espancamentos e estupros. Além disso, os russos estariam filmando suas vítimas para humilhar suas famílias. Em alguns casos, esses vídeos são enviados diretamente aos parentes, ampliando o trauma de forma cruel e calculada.
“É uma violência que ataca as fundações do ser humano”, afirma Massimo Diana, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) na Ucrânia. Para os sobreviventes, buscar ajuda é um desafio hercúleo, agravado pelo medo de julgamentos e rotulagens.
Tortura sexual como arma de guerra
A violência sexual contra homens não é nova, mas sua sistematização em conflitos modernos é alarmante. De acordo com apurações da ONU, oficiais russos não apenas toleram essa prática, mas muitas vezes a ordenam pessoalmente como parte de uma estratégia de guerra psicológica. Centros de detenção em áreas ocupadas se tornaram verdadeiros epicentros de crueldade, onde o estupro é usado sobretudo como arma para desumanizar e quebrar o inimigo.
Sobreviventes homens enfrentam barreiras que vão além da falta de recursos ou apoio psicológico. O estigma associado à violência sexual masculina cria uma barreira quase intransponível, onde buscar ajuda significa reviver o trauma e enfrentar o julgamento da sociedade.
De acordo com Diana, “essas vítimas já enfrentaram o inferno; muitas vezes, o que encontram fora é só mais dor”.
Enquanto a guerra na Ucrânia prossegue, o silêncio global sobre esse tipo de violência só perpetua a impunidade e amplia o sofrimento. Quando vamos parar de ignorar as histórias que importam?