No último domingo, a tropa da Marinha em Brasília compareceu em peso à cerimônia de troca da bandeira nacional, evento que marcou o lançamento de um vídeo institucional em comemoração ao Dia do Marinheiro, celebrado em 13 de dezembro.
A iniciativa, que prometia ser um espetáculo midiático produzido pelo setor de comunicação social da armada brasileira, acabou gerando reações negativas e foi interpretada mais como um misto de sarcasmo e demonstração de descontentamento diante das recentes medidas do governo federal, anunciadas como cortes de “privilégios” dos militares, do que como uma peça midiátia que demonstra a importância da marinha para o país.
O vídeo foi lançado em um momento extremamente sensível, após declarações de políticos ligados ao governo Lula, como o petista Lindberg Farias, que reforçou nas redes sociais a ideia de que os militares desfrutam de privilégios que precisam ser revisados. Paralelamente, a Marinha tornou-se a primeira força a divulgar em seus documentos as propostas do governo para a criação de uma idade mínima para a transferência à reserva remunerada e o aumento nos descontos para o Fundo de Saúde da instituição.
A publicação do Boletim de Ordens e Notícias, repercutida pela Revista Sociedade Militar em 23 de novembro, provocou forte indignação entre os militares. O aumento dos descontos para o sistema de saúde foi alvo de duras críticas, muitas delas destacando a precariedade no atendimento médico e os privilégios direcionados à cúpula da instituição e seus familiares nos hospitais militares. Além disso, houve queixas pela ausência de reposição inflacionária nos salários nos últimos anos, agravada pelo anúncio de novas medidas que oneram os militares.
Em redes sociais alguns militares também abordam o fim da morte ficta, alegam que dos militares é descontado um alto valor para a pensão militar, que o benefício não é de graça e que a coisa soa como uma possibilidade de reprimir militares que ousam denúnciar ilícits ou lutam para melhorias salariais ou na carreira: “a familia vai ficar desampamparada… em 32 anos de Marinah vi um caso. mas, por trás disso tudo… um sistema muito grande e forte, que pode fazer isso com a gente, que pode achar que somos contraventores, que somos comunistas… vão nos expúlsar e deixar nossa família desamparada… não vou fazer o L ou o B, quero fazer o C que pe o certo…“, diz uma suboficial da Marinha, em vídeo publicado nesse sábado no Instagram.
Ver essa foto no Instagram
Falta de resistência da cúpula militar
Nas redes sociais e em outros canais de comunicação restritos de militares, integrantes da tropa expressaram frustração com o que enxergam como uma falta de resistência da alta cúpula militar às ações que impactam negativamente a categoria. O Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, atual comandante da Marinha, foi alvo de comentários que sugerem uma tentativa de “mea-culpa” perante a tropa, diante do descontentamento generalizado.
Vale lembrar que o último reajuste salarial foi concedido ainda no governo Dilma Rousseff, enquanto a reestruturação de 2019, embora divulgada como um avanço, é apontada por militares de baixas patentes em fóruns e redes sociais como um processo que beneficiou sobretudo as altas patentes e algumas poucas carreiras específicas. A campanha, que deveria exaltar a profissão militar, acabou sendo vista como controversa e mal planejada, refletindo a crescente insatisfação dentro das fileiras da Marinha.
Alguns comentários transcritos de redes sociais frequentadas por militares
- Araxxxxda: “Se há arrocho, deve ser para todos: Judiciário, políticos etc.”
- Ricaxxxxxxx3: “Sinceramente! A Marinha do Brasil para os praças é um vexame. Foi no anterior, o almirante de esquadra Garnier Santos, e agora o atual, o Olsen. Isso aí tem que ter um debate, botar tudo em prato limpo.”
- Maxxxxxxlxxc: “Eu acho que esses comandantes são meretrizes baratas, só o da Marinha admitiu agora. Resta os outros dois ainda fazerem o mesmo.”
- Maxxxxxxin: “Os oficiais generais estão com seus soldos garantidos corrigidos muito acima da inflação, pois seus salários são equiparados a salários de ministros. Não estão nem aí para os nossos baixos salários que não acompanham a inflação. Por que iriam se incomodar com os salários de seus subordinados? Devemos agradecer ao FHC esta proeza!”
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar