Crise entre Argentina e Venezuela se agrava com prisão de oficial
Mais um episódio tenso envolvendo o regime de Nicolás Maduro. Neste final de semana, o governo argentino denunciou a prisão “arbitrária e injustificável” de Nahuel Agustín Gallo, oficial da Gendarmaria Nacional. Gallo entrou na Venezuela pela Colômbia no dia 8 de dezembro para visitar familiares e sua companheira, mas foi detido sem explicações concretas. O Ministério das Relações Exteriores argentino reagiu com veemência, classificando o ato como uma afronta ao direito internacional e exigindo sua libertação imediata.
Porém, essa não é apenas mais uma detenção arbitrária, como tantas que já se tornaram padrão na Venezuela. É mais um capítulo de uma relação marcada por rupturas diplomáticas, tensão política e agora, uma disputa que pode ressoar internacionalmente.
“Estado de Sítio” na embaixada argentina na Venezuela
A prisão de Gallo vem acompanhada de relatos preocupantes sobre as condições enfrentadas pelos funcionários argentinos na embaixada em Caracas. De acordo com um comunicado oficial, o governo de Javier Milei acusa o regime venezuelano de manter “um cerco psicológico” ao edifício diplomático. O governo argentino ainda acusa Maduro de posicionar atiradores de elite nas proximidades e de ocupar ilegalmente residências vizinhas.
A descrição beira um filme de guerra: um suposto “estado de sítio” que cria um ambiente de terror. E não para por aí. Desde março, seis opositores ao regime de Maduro estão asilados na embaixada argentina. Todos receberam acusações de terrorismo.
No meio dessa bagunça, há o Brasil, que assumiu a custódia do prédio em agosto, após o rompimento diplomático entre os dois países. Desde então, o governo de Lula enfrenta uma situação delicada, com o desafio de equilibrar a defesa da soberania argentina, a oposição de Milei e as provocações de Maduro.
Maduro, Milei e a diplomacia inexistente
A relação entre Argentina e Venezuela está em frangalhos desde que Javier Milei, recém-empossado presidente argentino, decidiu não reconhecer a suposta vitória de Maduro nas eleições presidenciais. Foi um movimento arriscado, mas alinhado ao discurso duro e sobretudo anticomunista de Milei. Em resposta, Maduro cortou relações diplomáticas, deixando a Argentina sem representação oficial em Caracas. Posteriormente, a embaixada argentina foi colocada sob custódia brasileira.
Agora, a prisão de Gallo parece um claro gesto de provocação. Não apenas fere os tratados internacionais que garantem a inviolabilidade de missões diplomáticas, como escancara a hostilidade do regime chavista a qualquer governo que ouse contestá-lo.
Reação internacional
De acordo com comunicado, a Argentina apela diretamente ao secretário-geral da ONU e à comunidade internacional, pedindo uma intervenção urgente na Venezuela. O tom é claro: a inação pode gerar principalmente “consequências irreparáveis”.
Mas será que a comunidade internacional vai reagir? As sanções impostas por EUA e União Europeia ao regime de Maduro parecem ter pouco impacto na postura autoritária do governo venezuelano. E, enquanto isso, países aliados a Maduro, como Rússia, China e até mesmo o Irã, seguem blindando o regime de críticas mais duras em fóruns internacionais.
Por outro lado, a situação coloca Lula em uma posição desconfortável. O presidente brasileiro, que tenta costurar uma aproximação com governos de esquerda na América Latina, agora se vê no centro de uma disputa entre Milei e Maduro. Ao decidir continuar defendendo os interesses da Argentina, Lula demonstra solidariedade, mas essa postura pode gerar atritos com o regime venezuelano.
Assim, essa crise não é apenas sobre um oficial preso ou uma embaixada sitiada — é um retrato do caos diplomático que reina na região.