O México está prestes a revolucionar o comércio global com um projeto audacioso: o corredor interoceânico do Istmo de Tehuantepec. Com um investimento de US$7 bilhões, a ferrovia de 330 km de extensão promete conectar os oceanos Atlântico e Pacífico, oferecendo uma alternativa ao Canal do Panamá em meio à crise de seca. Essa rota pode transformar o país em um hub estratégico entre América, EUA e Ásia, impulsionando o transporte de cargas e mudando o cenário econômico da região.
No entanto, mudanças climáticas e a escassez de chuvas vêm causando queda nos níveis de água do Lago Gatún, responsável por abastecer as eclusas do canal. Em 2023, o cenário se agravou, forçando a redução de travessias de 38 para apenas 22 por dia. Como resultado, o preço para cruzar a rota disparou de US$60 mil a US$300 mil para leilões que chegaram a US$4 milhões. Com navios esperando semanas para cruzar o canal, algumas empresas estão buscando rotas alternativas, mesmo que mais longas e caras.
México investe em corredor ferroviário histórico para conectar o Atlântico e o Pacífico
A aposta do governo mexicano é o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec é um ambicioso projeto ferroviário que recebeu investimentos de mais de US$7 bilhões. Este corredor promete reduzir a dependência do Canal do Panamá, oferecendo uma rota eficiente para conectar o Pacífico ao Atlântico.
A ideia de ligar os dois oceanos pelo México não é nova. Durante o período colonial, o Istmo de Tehuantepec, a parte mais estreita do território mexicano, servia como rota estratégica para transportar mercadorias, como ouro, prata e especiarias, entre as costas do Pacífico e do Atlântico. Posteriormente, em 1907, a ferrovia que conecta Salina Cruz, no Pacífico, a Coatzacoalcos, no Atlântico, foi inaugurada pelo presidente Porfírio Díaz. Com seus 330 km de extensão, a linha ferroviária revolucionou o transporte no México.
O declínio do México e a ascensão do Canal do Panamá como rota estratégica
Com a inauguração do Canal do Panamá em 1914, o México perdeu sua posição estratégica. O canal panamenho oferecia menor tempo de travessia e custos reduzidos, tornando desnecessário descarregar navios, transportar cargas por terra e recarregar embarcações.
A Revolução Mexicana (1910-1920) tornou a rota insegura, consolidando o domínio do canal como a principal travessia da América Central. Com o crescimento do comércio global e a construção de navios cada vez maiores, o Canal do Panamá se modernizou, realizando a maior ampliação de sua história em 2016. No entanto, a dependência de água doce e os efeitos do El Niño expuseram as vulnerabilidades da infraestrutura panamenha.
Investimento de US$7 bilhões impulsiona corredor ferroviário e economia mexicana
Desde 2018, com a chegada do presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), o transporte ferroviário voltou a ser prioridade no México. O governo anunciou investimentos de US$7 bilhões para revitalizar o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec. Com 330 km de extensão, o projeto visa conectar os portos de Salina Cruz e Coatzacoalcos, modernizando a infraestrutura ferroviária e portuária. Serão 10 polos destinados a indústrias dos setores automobilístico, farmacêutico e de energia, criando milhares de empregos e impulsionando a economia de estados historicamente pobres, como Oaxaca e Veracruz.
Portos modernizados impulsionam o corredor interoceânico como rota estratégica entre EUA, Ásia e América
Os investimentos também incluem melhorias nos portos. Em Salina Cruz, por exemplo, foi inaugurado em 2024 um quebra-mar de 1.600 metros, a maior estrutura do tipo na América Latina. Já o porto de Coatzacoalcos recebeu US$248 milhões para a construção de um terminal especializado em contêineres e melhorias em acessos rodoviários e alfandegários.
Com todas essas melhorias, o México projeta movimentar 1,4 milhão de contêineres por ano pelo corredor. Embora o número seja inferior aos quase 11 milhões de contêineres que cruzaram o Canal do Panamá em 2022, a nova rota representa uma alternativa estratégica para empresas que buscam rapidez e eficiência no transporte entre EUA, Ásia e América.
Uma rota estratégica entre América, Ásia e EUA
O Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec surge como alternativa complementar ao Canal do Panamá, especialmente durante crises como a seca recente que afetou o fluxo de navios. Com 330 km de extensão, a ferrovia modernizada pode reduzir o tempo e custos do transporte entre os EUA e a Ásia, aproveitando a proximidade geográfica.
Atualmente, locomotivas transitam por parte da rota, puxando 60 vagões com velocidade média de 60 km/h. O sucesso do projeto, porém, depende da conclusão das obras nos portos de Salina Cruz e Coatzacoalcos, fundamentais para receber grandes navios e operar com eficiência máxima.
Corredor Interoceânico do México atrai investimentos bilionários e desafia o Canal do Panamá
Com US$7 bilhões em investimentos, o corredor posiciona o México como um hub estratégico no comércio global, aproveitando o deslocamento de indústrias para o país. De acordo com o The Wall Street Journal, mais de 400 empresas já demonstraram interesse em investir no México, beneficiando-se da localização privilegiada.
Embora a capacidade inicial do corredor, de 1,4 milhão de contêineres por ano, seja inferior aos 11 milhões movimentados pelo Canal do Panamá, ele pode aliviar a demanda em períodos críticos e servir como rota rápida entre Atlântico e Pacífico.