Se há algo que a história gosta de fazer, é pregar peças irônicas. E a vida de Nobuo Fujita, um piloto da Marinha Imperial Japonesa, talvez seja uma das melhores provas disso. Fujita foi o homem que conduziu a única missão de bombardeio aéreo em solo continental americano durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, décadas depois, ele se tornaria uma espécie de herói local na mesma cidade que tentou incendiar. Parece roteiro de filme, mas aconteceu de verdade.
A missão impossível (ou mal planejada?) de Nobuo Fujita
Em 9 de setembro de 1942, uma manhã enevoada no sudoeste do Oregon, um vigia de incêndios, Howard Gardner, avistou algo completamente fora do comum. Trata-se de um monoplano monomotor cortando os céus da floresta de pinheiros. O avião, um hidroavião E14Y “Glen”, tinha partido do submarino japonês I-25, que aguardava submerso ao largo da costa do estado. Seu piloto era Nobuo Fujita, de 31 anos. Fugita um veterano que carregava consigo uma espada samurai de 400 anos, um símbolo de sua linhagem e sobretudo compromisso com a missão.
Seu plano era jogar bombas incendiárias sobre a Floresta Nacional Siskiyou. A ideia, elaborada com um misto de estratégia e desespero, era provocar um incêndio florestal que pudesse desviar recursos americanos do esforço de guerra no Pacífico. No entanto, a floresta foi palco de chuvas incomuns nos dias anteriores, e a vegetação estava úmida. Quando as bombas caíram, o estrago foi, no máximo, modesto. Howard Gardner, ao chegar ao local do impacto, encontrou apenas uma cratera e fragmentos de metal com inscrições japonesas. Não havia, portanto, nem fogo devastador, nem caos generalizado.
A ousadia que virou propaganda no Japão
Apesar do fracasso prático, a missão foi celebrada no Japão. Nobuo Fujita voltou como herói, com os jornais do país estampando manchetes glorificando seu feito. Afinal, era um golpe moral: o Japão finalmente conseguia bombardear o continente americano, algo inédito.
Por outro lado, o submarino I-25 não teve muita sorte depois disso. No dia seguinte, em 10 de setembro, foi atacado por um bombardeiro americano A-29 “Hudson”. Embora o submarino tenha escapado com danos mínimos, o segundo ataque planejado por Fujita teve que ser cancelado.
De inimigo a amigo: o improvável retorno
Duas décadas depois, em 1962, a história deu sua guinada mais inesperada. Os cidadãos de Brookings, talvez movidos por um senso de humor ácido ou pela busca de reconciliação, convidaram Nobuo Fujita para o Festival Anual da Azaleia. Fujita aceitou o convite, mas não sem hesitação. Ele levou consigo sua espada ancestral, pronto para cometer seppuku caso fosse humilhado publicamente.
A recepção, no entanto, foi calorosa. Os moradores da pequena cidade decidiram não viver à sombra do passado. Fujita, emocionado, doou sua espada à cidade como símbolo de paz. Posteriormente, o veterano japonês ainda financiou bolsas de estudo para estudantes de Brookings e plantou árvores no local do bombardeio. Em 1997, pouco antes de sua morte, Fujita foi nomeado cidadão honorário de Brookings.
Hoje, a espada de Nobuo Fujita está exposta na biblioteca pública de Brookings. Além disso, uma trilha leva ao local onde ele lançou as bombas. Parte de suas cinzas foi enterrada ali, em uma floresta que ele tentou destruir, mas que agora guarda um pedaço de sua história.