Cansaço na narrativa e as duras realidades por trás das diásporas cubana e venezuelana
Na última década, os êxodos em massa de Cuba e Venezuela tomaram proporções alarmantes. O fato reflete não apenas uma falência de seus projetos revolucionários, mas também as profundas desigualdades e tensões que esses sistemas autoritários perpetuam.
Perda populacional em números: um colapso inegável
A população de Cuba despencou. Entre o final de 2021 e 2023, dados oficiais falam em uma queda de 10%. No entanto, estudos externos – como o do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade Internacional da Flórida – sugerem uma redução ainda mais drástica: de 11,2 milhões para 8,6 milhões. Um êxodo desse porte não é apenas uma fuga, mas um grito coletivo de desespero.
Já na Venezuela, a crise é igualmente pungente: desde 2014, mais de 7,7 milhões de pessoas abandonaram o país. Trata-se surpreendentemente de cerca de 20% da população. Em média, 2.000 venezuelanos continuam cruzando as fronteiras todos os dias. As ruas de Caracas, na Venezuela, assim como as de Havana, em Cuba, contam agora apenas histórias de vazio.
Venezuela e Cuba vivendo em negação
Para os governos de ambos os países, expulsar dissidentes era, inicialmente, conveniente. Em Cuba, Fidel Castro chamava os exilados de “vermes” e não escondia que preferia vê-los longe. Na Venezuela, embora o governo fosse mais cauteloso em seus discursos, a saída de milhões também era vista como um alívio. O governo considerava menos bocas para alimentar e, além disso, menos oposição a confrontar.
Mas a lógica se voltou contra eles. Ao expulsar sua população mais qualificada, Cuba e Venezuela não só perderam recursos humanos essenciais, mas também alimentaram movimentos de oposição mais estruturados no exterior. Em Miami, cubanos como o senador Marco Rubio emergiram como forças políticas nos EUA, promovendo políticas duras contra o regime de Havana. Na Espanha, os venezuelanos exilados começam a se organizar de maneira mais coesa, pressionando por mudanças em Caracas.
Esperança ou desespero: o que vem a seguir para Cuba e Venezuela?
A realidade é amarga. Em Cuba, qualquer sinal de mudança é sufocado por décadas de repressão. Na Venezuela, a promessa revolucionária de Chávez se desfez em corrupção, fome e um sistema que mal sustenta os seus. Sob um possível segundo mandato de Trump, tanto cubanos quanto venezuelanos enfrentariam sanções ainda mais severas, piorando as condições de vida para quem já está no limite.
Para quem ficou, resta lutar com as migalhas de um sistema em ruínas. Para quem partiu, o desafio é construir uma vida longe de casa, enquanto a memória de um país perdido os assombra. Cuba e Venezuela podem ter se beneficiado por um breve momento da partida de seus dissidentes. Hoje, colhem os frutos podres de uma estratégia que só revelou a fragilidade de suas revoluções.