Mais um militar brasileiro que se destaca no cenário internacional. O 3º Sargento Ariel Quim, de 29 anos, militar da 5ª Companhia de Polícia do Exército em Curitiba (PR), representou o Brasil em dois eventos internacionais de Orientação em 2024. Um feito digno de nota, mas que também escancara como o esporte sofre com a falta de estrutura e apoio por aqui.
Resultados sólidos, mas sacrifícios inevitáveis
Em outubro, Ariel participou do Campeonato Sul-Americano de Orientação, na Colômbia, conquistando um respeitável 2º lugar na prova Sprint. Não é a primeira vez que o sargento alcança esse resultado: ele repetiu o feito que já havia conseguido no Sul-Americano de 2022, disputado na Tríplice Fronteira.
Porém, nem tudo foi motivo de comemoração. Ariel teve que abrir mão de uma das provas do campeonato para embarcar rumo à Espanha, onde participou do 52º Campeonato Mundial Militar de Orientação. A correria e o cansaço foram inevitáveis, mas o esforço valeu a pena para ajudar a equipe brasileira a conquistar o 13º lugar no masculino e o 6º no feminino — os melhores resultados entre os países das Américas.
A realidade europeia versus a brasileira
Ao comparar sua experiência internacional, Ariel foi direto: competir na Europa é outro nível. “É um choque, porque o terreno é muito mais detalhado e a competitividade, muito maior”, comenta o sargento, relembrando sua estreia em mundiais, em 2015, na Noruega.
E não é só o nível técnico. A modalidade é incrivelmente prestigiada por lá. Na Espanha, o campeonato foi transmitido ao vivo na TV aberta, com narração, análise de mapas em tempo real e até comparativos detalhados entre os atletas. “É como assistir a um jogo de futebol aqui”, desabafa Ariel, visivelmente impressionado com o respeito que o esporte recebe fora do Brasil.
Enquanto isso, no Brasil, a orientação mal figura no radar do grande público, e os atletas precisam lutar para custear suas próprias viagens e treinos.
Falta de verba barra novos voos
O próximo desafio do militar Ariel seria o Campeonato Mundial de Orientação, na Escócia. Ele já tinha pontuação suficiente no ranking para competir, mas, como não é uma modalidade olímpica, os patrocínios e o apoio financeiro não apareceram. Resultado? Ele teve que deixar o sonho para depois.
“Essa competição ainda é um farol para mim, um objetivo que eu tenho”, explica Ariel, com aquele otimismo cansado de quem sabe que, no Brasil, esporte é sinônimo de batalha, seja contra adversários no campo ou contra a falta de recursos.
A reflexão que fica
A trajetória de Ariel Quim reflete um padrão no esporte brasileiro: talento, dedicação e resultados sólidos ofuscados pela falta de investimento e visibilidade. Enquanto na Europa a orientação é tratada como uma grande modalidade esportiva, no Brasil, o próprio militar é quem precisa carregar o fardo de manter seus sonhos vivos, às vezes às custas de grandes sacrifícios.
O sucesso de Ariel deveria ser motivo de orgulho nacional. Mas, cá entre nós, seria pedir demais que o esporte, mesmo fora do mainstream, tivesse um pouco mais de apoio institucional? Talvez não. Ou talvez seja só mais um reflexo do jeito brasileiro de improvisar.