No início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, a marinha da Federação Russa operava no Mar Negro com seis submarinos convencionais da classe Varshavyanka. Dois desses submarinos, Novorossiysk e Krasnodar, foram realocados para o Mar Mediterrâneo antes do início do conflito e ainda não retornaram ao Mar Negro.
Segundo relatos, um terceiro submarino, o Rostov-on-Don, estava em dique seco em Sebastopol em setembro de 2023, danificado por um ataque ucraniano com o míssil Storm Shadow-FK, e desde então não foi reparado.
De acordo com os serviços de inteligência ucranianos, os três submarinos restantes estão no Mar de Azov, onde permanecem indetectáveis para a Ucrânia. Dessa posição, fora do alcance dos drones ucranianos, eles têm lançado suas cargas, compostas por quatro a oito mísseis de cruzeiro Kalibr, contra alvos ucranianos.
New imagery reveals catastrophic damage to Russian submarine Rostov on Don following a Ukrainian missile strike in Sevastopol. The power of UK-gifted Storm Shadow and French-gifted SCALP-EG cruise missiles is evident. #BlackSeaUpdate #SevastopolStrike pic.twitter.com/LxrhelWrKu
— UK Defence Journal (@UKDefJournal) September 18, 2023
Esse posicionamento tático permite à Rússia manter um grau de ambiguidade estratégica, dificultando que a Ucrânia preveja e contra-ataque eficazmente esses lançamentos de mísseis.
A base operacional desses submarinos é provavelmente Novorossiysk, para onde foram transferidos os componentes ativos da marinha e da Frota do Mar Negro após abandonarem definitivamente o porto de Sebastopol em meados de julho do ano passado.
A mudança para Novorossiysk não só proporciona um porto mais seguro, longe da ameaça imediata de ataques ucranianos, como também serve como centro logístico para reabastecimento e manutenção.
Essa realocação destaca a dinâmica em transformação na região do Mar Negro, onde o domínio naval tradicional é cada vez mais desafiado por ameaças assimétricas, como guerra com drones e ataques de precisão de longo alcance.
A retirada dos submarinos russos e as mudanças estratégicas no Mar Negro
É possível que o Alrosa, um submarino mais antigo da classe Kilo, também estacionado em Sebastopol e já considerado fora de serviço devido à sua antiguidade de mais de 30 anos, tenha sido modernizado para lançar mísseis de cruzeiro modernos após a perda de outros ativos.
Se confirmado, essa adaptação reflete a improvisação estratégica da Rússia diante de reveses operacionais. Ao prolongar a vida útil de navios mais antigos, a Rússia pode manter sua capacidade de mísseis submarinos, embora com eficiência operacional potencialmente reduzida.
Até o momento, não há submarinos russos operacionais no Mar Negro. Essa ausência representa uma mudança significativa, dado o papel histórico que os submarinos desempenham na projeção de poder e no controle marítimo na região.
A lacuna deixada por esses submarinos pode encorajar as operações navais ucranianas e aumentar a eficácia dos sistemas antinavio e de defesa costeira fornecidos pelo Ocidente.
Além disso, o cálculo estratégico para os membros da OTAN no Mar Negro também pode mudar, já que a menor presença de submarinos russos altera o equilíbrio de poder regional.
A ausência de submarinos russos no Mar Negro afeta significativamente a capacidade operacional da Rússia na guerra em curso contra a Ucrânia.
Os submarinos, especialmente os capazes de lançar mísseis de cruzeiro, oferecem uma plataforma furtiva para ataques de precisão contra alvos terrestres. Sem esses ativos, a Rússia perde um elemento-chave de surpresa e flexibilidade em sua estratégia marítima, sendo forçada a depender mais de navios de superfície e mísseis lançados pelo ar, que são mais vulneráveis à detecção e interceptação.
Além disso, a falta de submarinos reduz a capacidade da Rússia de projetar poder e manter uma presença estratégica no Mar Negro, limitando sua habilidade de impor bloqueios ou desafiar eficazmente as operações navais da Ucrânia e da OTAN.
A menor ameaça representada pelos mísseis lançados por submarinos permite à Ucrânia fortalecer suas defesas costeiras e melhora a liberdade operacional das forças marítimas ucranianas e de seus aliados.
O vazio estratégico deixado por esses submarinos também altera o equilíbrio de poder regional. A OTAN e seus estados membros no Mar Negro podem encontrar maior liberdade de ação, o que poderia ampliar seu apoio à Ucrânia com patrulhas navais e envios de ajuda militar.
Além disso, a menor presença de submarinos russos pode encorajar a Ucrânia a realizar operações navais mais agressivas, incluindo o uso de veículos de superfície e submarinos não tripulados, para interromper as linhas de abastecimento e a logística russas no Mar Negro.
No geral, a ausência de submarinos enfraquece a estratégia militar mais ampla da Rússia na região, reduzindo sua capacidade de realizar operações marítimas furtivas e sustentadas, bem como diminuindo sua postura de dissuasão contra a Ucrânia e as forças da OTAN.
O impacto da ausência de submarinos na capacidade militar russa e na Marinha
A Federação Russa utilizou os submarinos da classe Kilo de sua Frota do Mar Negro para realizar numerosos ataques com mísseis contra a Ucrânia desde o início da invasão em grande escala, em fevereiro de 2022.
Esses submarinos desempenharam um papel fundamental na estratégia russa, lançando mísseis de cruzeiro Kalibr a partir da relativa segurança de posições submersas, dificultando a detecção e interceptação pelas defesas ucranianas.
Em 24 de fevereiro de 2022, quando a invasão começou, as forças russas lançaram uma enxurrada de mísseis de cruzeiro, incluindo os disparados de submarinos, contra infraestruturas críticas como centros de comando, bases aéreas e instalações de defesa aérea. Esse ataque inicial foi projetado para paralisar a capacidade de resposta da Ucrânia e estabelecer o domínio russo no ar e em terra.
O papel dos mísseis Kalibr e o legado dos submarinos na guerra
Durante o verão de 2022, a marinha da Rússia continuou utilizando seus mísseis Kalibr lançados de submarinos para atacar o território ucraniano. Em 14 de julho, um ataque devastador na cidade de Vinnytsia matou pelo menos 20 pessoas, incluindo crianças.
A precisão e o poder dos mísseis Kalibr destacaram a eficácia dos submarinos russos para realizar ataques de longo alcance com aviso mínimo.
Os ataques não cessaram com a mudança de estações. Em 11 de setembro de 2022, vários mísseis Kalibr foram lançados, causando grandes danos, incluindo estragos na usina térmica TEC-5, em Kharkiv, que resultaram em cortes generalizados de eletricidade.
Esse ataque exemplificou a campanha contínua da Rússia para desestabilizar a infraestrutura energética da Ucrânia — uma estratégia que se intensificou com o prolongamento do conflito.
Em outubro, o uso de mísseis Kalibr foi ampliado para incluir ataques que violaram o espaço aéreo de países vizinhos, como a Moldávia.
Em 10 de outubro, um ataque em larga escala envolveu esses mísseis, destacando o impacto regional crescente da guerra e o alcance do arsenal russo lançado a partir de submarinos.
Em novembro de 2022, a atenção da Rússia à rede elétrica da Ucrânia tornou-se ainda mais evidente. Uma série de bombardeios com mísseis causou danos significativos às instalações de energia do país, com os mísseis Kalibr desempenhando um papel central na ofensiva.
Até meados de novembro, quase metade da infraestrutura energética da Ucrânia havia sido comprometida, destacando a importância estratégica desses ataques para enfraquecer a resiliência do país durante os meses de inverno.
Mesmo em 20 de março de 2023, os efeitos dos ataques com mísseis Kalibr ainda eram sentidos, com explosões atribuídas a essas armas sendo registradas no norte da Crimeia.
Esse uso contínuo de mísseis lançados de submarinos reflete a dependência da Rússia de seus ativos navais para manter pressão sobre a Ucrânia, mesmo enquanto outros fronts militares sofriam flutuações.
A furtividade e o alcance dessas plataformas baseadas em submarinos continuam sendo componentes críticos no arsenal ofensivo da Rússia, proporcionando um meio poderoso para ataques de precisão e minimizando a exposição a represálias.
Contudo, a ausência atual de submarinos operacionais no Mar Negro enfraquece essa estratégia, reduzindo a capacidade russa de realizar ataques surpresa e de sustentar operações marítimas encobertas.
Essa lacuna na presença submarina não só expõe a vulnerabilidade da marinha da Rússia, como também oferece à Ucrânia e aos aliados da OTAN novas oportunidades para consolidar suas posições estratégicas na região.