A decisão do governo indiano de abandonar um contrato para a aquisição de 126 caças MMRCA (Medium Multi Role Combat Aircraft) em favor de um pedido emergencial de 36 caças Rafale, diretamente da França, está sendo considerada um erro estratégico. O alerta foi feito pelo ex-marechal do ar, M. Matheswaran, que criticou duramente a mudança de planos e suas consequências para a indústria aeroespacial indiana.
A aquisição emergencial dos caças Rafale, concretizada em 2016, visava suprir uma lacuna crítica na capacidade operacional da força aérea. No entanto, Matheswaran argumenta que o cancelamento do projeto original, que incluía a transferência de tecnologia e a produção local de 108 aeronaves, impediu o desenvolvimento de infraestrutura e mão de obra qualificada no país.
Em 2007, a Índia iniciou o processo para adquirir 126 caças como parte do programa MMRCA. Após anos de avaliações técnicas e testes rigorosos com seis modelos concorrentes, os Rafales e os Eurofighters foram selecionados como finalistas. A Dassault, fabricante do Rafale, venceu a licitação em 2011. Entretanto, desacordos sobre os termos de transferência de tecnologia e as responsabilidades da HAL (Hindustan Aeronautics Limited) causaram atrasos.
Decisão controversa e impactos na defesa
Com a incapacidade de finalizar os termos do contrato, o governo indiano optou por adquirir 36 caças Rafale em condição de prontos para voo, descartando a proposta inicial. Essa decisão, embora tenha solucionado a demanda urgente, foi amplamente criticada por ser mais cara e por não beneficiar a indústria indiana.
Matheswaran enfatizou que a decisão prejudicou os planos de longo prazo da índia para expandir sua capacidade industrial em aviação militar. Além disso, a falta de produção local limitou oportunidades de emprego e treinamento técnico, deixando a força aérea dependente de importações para manutenção e atualização dos caças adquiridos.
O ex-marechal também destacou que os caças Rafale teriam feito grande diferença durante as operações aéreas de Balakot, em 2019, se tivessem sido entregues antes. Ele defende que contratos de defesa de grande porte devem ser tratados como acordos entre governos, priorizando os interesses estratégicos do país.
Nova licitação e planos para recuperação
Apesar da compra dos Rafales, a força aérea indiana continua com um nível alarmante de esquadrões em operação, abaixo dos patamares de 1965. Para corrigir essa deficiência, a Índia lançou em 2018 uma nova licitação para adquirir 114 caças sob o programa MRFA (Multi Role Fighter Aircraft), priorizando a produção local.
Entre os principais concorrentes estão o Rafale, F-15EX e F-21 dos Estados Unidos, o Gripen sueco, o Su-35 russo e o Eurofighter Typhoon. O programa promete seguir a política “Make in India”, permitindo que os caças sejam fabricados no país e possibilitando atualizações tecnológicas futuras.
O governo indiano também formou um comitê de defesa para supervisionar o projeto. O grupo inclui o secretário de defesa e o chefe adjunto da força aérea. Eles avaliarão as propostas e garantirão que o projeto siga os interesses estratégicos do país.
Desafios tecnológicos frente à China
A urgência para modernizar a força aérea indiana é agravada pelo avanço tecnológico da China, que prevê operar 1.000 caças J-20 de quinta geração antes que a Índia consiga implementar seu programa AMCA (Advanced Medium Combat Aircraft).
O comandante da IAF, Amar Preet Singh, admitiu recentemente que a índia está ficando para trás em termos de tecnologia e capacidade de fabricação. Ele ressaltou que o país precisa recuperar terreno rápido para manter a capacidade defensiva frente à China e ao Paquistão.
Embora a Índia não planeje ofensivas contra seus vizinhos, a capacidade de resistir em múltiplas frentes é questionada. Para especialistas, a resposta precisa vir por meio de investimentos em produção local e negociações rápidas para aquisições futuras.
Com informações de: eurasiantimes