Em um movimento que escalou as tensões entre Estados Unidos e China, Washington incluiu a maior empresa de transporte marítimo da China, a Cosco Shipping Holdings Co., e dois dos principais estaleiros do país na sua lista de sanções. A medida, anunciada nesta semana, tem como base a alegada ligação dessas companhias ao Exército de Libertação Popular (PLA) chinês, de acordo com informações divulgadas pela Bloomberg.
A Cosco, gigante do transporte marítimo, já havia enfrentado sanções anteriormente por transportar petróleo iraniano em 2019, mas as restrições foram suspensas em 2020. Agora, ela está no centro das atenções novamente, destacando o crescente foco dos EUA em empresas chinesas com papel estratégico no fortalecimento militar de Pequim. Outras gigantes como Tencent Holdings e Cnooc Ltd também foram atingidas por restrições, ampliando o alcance das sanções para os setores de tecnologia e energia.
Fusão civil-militar amplia alcance marítimo chinês
A Cosco é apontada como parte essencial da estratégia de fusão civil-militar da China, que utiliza infraestruturas civis para fins militares. Um relatório de 2020 do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais descreveu a empresa como o “braço logístico marítimo do PLA”. Desde 2008, a Cosco apoia operações navais chinesas no Golfo de Áden, demonstrando o papel crítico da empresa no suporte estratégico.
A preocupação dos EUA cresceu significativamente após o incidente envolvendo o COSCO Sakura, um enorme navio cargueiro que atracou em Norfolk, Virgínia, em 2024. Com capacidade para transportar mais de 14 mil contêineres, especialistas apontaram o risco de sua utilização como “cavalo de Troia”, transportando armamentos ou drones que poderiam atingir alvos estratégicos nos EUA.
O analista Thomas Shugart, do Center for a New American Security, destacou que, se apenas 10% da carga do Sakura fosse composta por armamentos, isso poderia significar o transporte de 144 mísseis de cruzeiro e 252 drones, capazes de devastar completamente a base naval de Norfolk, a maior do mundo.
Frota sombra: o poder oculto do PLA no mar
A estratégia da China para expandir sua influência marítima inclui o uso da chamada “frota sombra”, composta por embarcações civis com suporte militar. Essa abordagem foi detalhada em um relatório recente do Instituto de Estudos Marítimos da China, da Naval War College dos EUA, que destacou a integração entre a reserva naval do PLA e a milícia marítima do país.
A reserva naval, composta majoritariamente por veteranos militares, atua como uma força de suporte flexível e eficiente, enquanto a milícia marítima é um elemento chave da estratégia “zona cinzenta” da China. Essa estratégia combina ações militares e civis para evitar conflitos diretos, permitindo a Pequim ampliar suas operações no Mar do Sul da China e além, mantendo a negação plausível de suas intenções.
Domínio industrial e militar no transporte marítimo
A influência marítima da China não se limita ao setor militar. O país domina a infraestrutura global de transporte marítimo, controlando sete dos dez maiores portos do mundo e fabricando mais de 95% dos contêineres usados no comércio global.
Em 2024, os estaleiros chineses atingiram um marco histórico, completando mais de 42 milhões de toneladas de peso morto em navios mercantes – mais da metade da produção mundial. Este domínio industrial reforça o poder marítimo da China e fortalece sua capacidade de projetar força em escala global.
Com o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, a competição marítima entre Washington e Pequim tende a se intensificar. O uso estratégico da “frota sombra” e a integração civil-militar são exemplos claros de como a China busca desafiar a hegemonia naval americana em uma era de crescente rivalidade geopolítica.
Com informações de: eurasiantimes