Nosso Príncipe nasceu em Portugal. Uma criança chegada ao Brasil, ainda com nove para dez anos, que se deixaria dominar pelo amor a esta terrabravia, cheia de encantos mil, de natureza tropical, rica, fagueira eparadisíaca. Nosso Príncipe, com o passar dos anos, desenvolveu caráter forte,eu diria tempestuoso, onde se mesclavam a indolência, a falta de escrúpulos,mas, também, uma coragem sem limites.
Nossa alteza, alertado pelo pai, sabia que sua terra morena, mais cedo ou mais tarde, faria sua independência e ele teria que estar à frente dos acontecimentos. Os sinais estavam sendo dados, os brasileiros o queriam como seu libertador. Eis que, em São Paulo, às margens do Ipiranga, mensageiros lhe fazem chegar notícias preocupantes da metrópole portuguesa, desejosa de manter o domínio ultramarino sob sua autoridade despótica. O jovem vê que é chegada a sua hora, que foi também a nossa.
Muitos não acreditam, mas, para os verdadeiros brasileiros que amam essa terra acima de tudo, ele proclamou, altoe bom som, desembainhando sua espada, já sob escolta de seus DRAGÕES: “Laços fora, soldados! Pelo meu sangue, pela minha honra, juro fazer a liberdade do Brasil. Independência ou morte! ”
Hoje nosso primeiro imperador não é mais cantado em prosa e verso na grande maioria das escolas deste Brasil. Apenas uma imagem deletéria se deixa passar para a juventude, nada mais nada menos do que a de um homem cheio de vícios,dominado pelas paixões, boêmio contumaz, como se isso não fosse comum entre a politicalha republicana que passou a dominar o País após uma lamentável proclamação de república, diga-se de passagem, o único desserviço prestado pelo Exército à nação.
Mas nosso imperador, apesar destes defeitos graves, jamais, pode seracusado de falta de amor por esta terra. Com perfeita noção de que havia chegado a seu momento, em 1831, por um ato de grandeza, não titubeou em abdicar. Aqui, como seu pai o fizera, deixaria seu filho, este ao cuidado de brasileiro patriota e competente que indicaria para o futuro imperador o caminho de honra e glória, aquele que seria palmilhadoao longo de todo o 2º Império.
Não, em absoluto, não se pode deixar semcorreção estas injustiças que se fazem ao nosso D. Pedro I. Há que se “dar a César o que é de César” ao soberano que, mesmo deixando o Brasil, ainda foi capaz de invadir Portugal à frente de um exército em 1834, para se envolver em conflito numa escala muito maior, que envolveu toda a península ibérica numa luta em que, vitorioso, liderou liberais contra aqueles que procuravam o retorno ao absolutismo.
A morte alcançaria nosso libertador, vitimado pela tuberculose, ainda em 24 de outubro de 1834. É de se perguntar porque os americanos não defenestram as memórias de um Kennedy oumesmo de um Clinton, por certo, tão ou mais vulneráveis do que o nosso Príncipe às paixões humanas. Por certo, o patriotismo dos dois norte-americanos pese muito mais na balança do que os seus
desvios de conduta. De qualquer forma, muito obrigado meu Príncipe. Seu legado imperial, por certo, significa muito mais do que o estorno republicano, máxime o que vivenciamos desde 1985.
Paulo Ricardo da Rocha Paiva
Coronel de Infantaria e Estado-Maior