Forças Armadas Brasileiras, de heróis a vilões.
O governo federal mantém ha bastante tempo os militares como a categoria com a pior renumeração. Alguns acham que isso se deve ao evidente revanchismo que membros da “elite” petista têm contra aqueles que impediram a esquerda de mergulhar o país no comunismo. Outros acham que, além do motivo anterior, pesa também o facto dos militares brasileiros, diferente de seus congêneres de países como Venezuela e Bolívia, insistirem em se manter em um posicionamento político-ideológico diametralmente oposto à proposta esquerdista.
Os clubes e associações de militares, que expressam a posição de ativa e reserva, mesmo em campanha salarial, e inteiramente dependentes do executivo, que tem a exclusividade da iniciativa legislativa em relação à remuneração e planos de carreira das Forças Armadas, nunca se furtaram de proferir o discurso duro em relação aos últimos governos, expressando assim o posicionamento da categoria. Para aqueles mais atentos isso deve ser um claro sinal de que aqui nunca será uma Venezuela.
Nos últimos dias, além de grande parte da sociedade de oposição, muitos blogueiros de habilidade reconhecida aparentemente lançaram no lixo do esquecimento todo o respeito e admiração que diziam possuir pelas Forças Armadas brasileiras. Muitos destes resolveram repentinamente atacar os militares por vários motivos.
Entre eles:
– Não impediram que Dilma emitisse um decreto delegando algumas competências para o Ministro da Defesa.
– Não se recusaram a desfilar em comemoração ao 7 de setembro.
– Pasmem, prestaram continência para a Presidente do Brasil e outros líderes.
– Não empreenderam ainda uma ação armada que deveria fechar o Congresso Nacional e prender os chefes do Poder Executivo Federal.
A mais recente crítica é:
Luciano Ayan essa semana chegou a dizer que não pede INTERVENÇÃO MILITAR pelo facto de acreditar que os militares se dobraram à Dilma Roussef.
Ele disse:
“… Militares servem a quem os paga. No caso é Dilma. Que o golpe da presidente sirva para desmoralizar de uma vez por todas quem ainda acreditava em “rebelião militar”. Por isto mesmo sempre defendi a alternativa civil. Nós, civis, não temos rabo preso com Dilma”.
No passado Ayan fez várias colocações diferentes sobre a intervenção, colocando esse posicionamento como retrógrado, anti-democrático e até como uma espécie de “estupro político”.
Olavo de Carvalho foi outro formador de opinião que nos últimos dias entrou em desatino por conta do “terrível” decreto de Dilma. Ele disse:
“O tal decreto 8.515 não prepara um golpe de Estado. Ele JÁ É o golpe de Estado… As Forças Armadas, outrora tão honradas e dignas — digo alto e bom som — são hoje traidoras da pátria. Nada se pode esperar delas senão a subserviência canina a tudo o que não presta …”
Olavo de Carvalho, que reside nos Estados Unidos, dono de vasta e útil bibliografia, tem divulgado frases de baixíssimo nível contra as Forças Armadas. Chamando os militares de covardes, omissos e coisas piores, o escritor trata a categoria como se fosse alguma espécie sub-humana, que não merece consideração e respeito.
Prezados amigos
Para que esse país assuma uma rota mais promissora é preciso que muitos desenvolvam a capacidade de construir um posicionamento individual. Não podemos mais ser levados por discursos (e textos) eloquentes, sejam de direita ou de esquerda, não podemos embasar nossas ações e declarações sobre pilares alheios.
No momento procuramos um culpado?
Desde o início de nossa história crucificamos pessoas erradas.
Certamente é mais fácil assim.
O decreto do “GOLPE” e as interpretações. (Dec. 8.515/2015)
Esse caso vai entrar para a história. Vemos nesses dias o estrago que uma interpretação equivocada e sem conhecimento de causa pode fazer.
Ainda que o documento, impertinente, e retirado da gaveta sem avisar a ninguém, pareça algo gigantesco, nada deve mudar. Se trata de norma relacionada a questões internas, facilmente interpretada por quem convive ou conviveu na caserna. Mas, aparentemente difícil de entender para quem nunca vestiu uma farda, ou fez isso por pouco tempo.
Nos últimos dias tem surgido muita gente que se autoproclama expert em ciências militares. A sociedade precisa tomar cuidado com isso. Não basta o indivíduo ter servido o exército, frequentado o CPOR ou algum colégio militar para que embasemos nossas ações em sua opinião.
Ha informações de que já existem grupos cadastrando pessoas em boas condições físicas, que ja prestaram serviço militar etc. A história nos ensina que isso nunca termina bem.
Não depositem sua esperança em guias cegos.
Nem mesmo oficiais generais baseiam suas decisões/ações em uma única opinião. É por isso que existem as três forças, diversas armas, especialidades e sub-especialidades. A gama de informações é muito mais vasta e organizada do que aparenta àquele que de fora apenas observa.
Mais uma vez, a última.
Promoções, reserva, reforma e outros procedimentos internos das Forças Armadas, ocorrem com base em documentos específicos, de conhecimento de todos os militares e aprovados pela legislação em vigor. Os atos relacionados a esses procedimentos eram anteriormente editados (divulgados, emitidos) pelos ministros militares.
Quem, sem conhecimento do assunto, lê o decreto 8.515, pode pensar que o Ministro agora tem poder para promover um cabo ao posto de general, ou fazer o contrário. Contudo, não é assim que funciona. Não há a mínima possibilidade de absurdos desse tipo ocorrerem. Os procedimentos são determinados pela legislação em vigor. O que a autoridade faz, ao editar tais atos, é apenas cumprir a legislação.
Mesmo que a Mídia toda, que vive de vender jornal, faça estardalhaço com isso, não podemos mudar um posicionamento baseado na lógica e experiência.
Como foram extintos os ministérios militares nada mais lógico é do que delegar essa função para o Ministro da Defesa. O que foi feito pelo “fatídico” decreto 8.515.
O Ministro, político que é, deve deixar tudo com estava, cumprindo o Parágrafo único. que diz: A competência prevista nos incisos I e II poderá ser subdelegada aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Se a sociedade, tão preocupada com isso, insistir muito, Dilma ou Jaques Wagner podem até cancelar o tal decreto, isso não mudará nada já que provavelmente, como dito acima, as tarefas seriam sub-delegadas aos comandantes. Para os Comandantes ficara “seis por meia dúzia”, continuarão fazendo o que fazem. Não é esse documento que mudará o rumo dos acontecimentos nas Forças Armadas e muito menos em nosso país.
Discutir isso sobriamente nada tem que ver com apoiar ou rejeitar Dilma Roussef.
No momento que passamos precisamos de muita sobriedade, coerência, foco.
Hoje por exemplo, assistimos online, uma conversa pública pela internet entre membros de grupos de oposição, o filósofo Olavo de Carvalho, Percival Puginna e até políticos do PP, partido diretamente envolvido no petrolão.
Pela conversa percebe-se que não há a mínima coerência. Enquanto a maioria dos membros dos grupos de oposição taxa os intervencionistas de retrógrados e até tenta impedir que os mesmos participem das manifestações, Olavo de Carvalho insiste na INTERVENÇÃO MILITAR e agora chama os militares de covardes pelo fato de aceitarem o “fatídico” decreto. Hoje ele propôs até que se faça panelaço contra o Comandante do Exército. Logo após a fala de Olavo, Percival Puginna disse que os pedidos de intervenção são patéticos. Mas, no hangout todos agem como se concordassem entre si.
Olavo deixou Claro que está “profundamente decepcionado” com o General Paulo Chagas, um dos que explicou de forma bastante clara que o decreto 8.515 não tem nada de agressivo.
Como se perde o respeito por uma pessoa assim tão rapidamente?
Não chegamos à situação atual instantaneamente e a reversão também não tem como ser instantânea. É um processo.
Vivemos um momento interessante, a sociedade pode ver alguma evolução, os procedimentos legais acontecendo, políticos e empresários renomados indo para a cadeia e sendo desmascarados.
Podemos SIM reverter isso em poucos anos e de forma democrática. É preciso disposição e desprendimento. Que não se busque soluções “mágicas”. Sempre haverá um período de transição, em se tratando de política e de alterações que envolvem toda uma nação, não há como esperar que as coisas aconteçam instantaneamente.
Caso houvesse uma nova ação militar no Brasil o intervalo de tempo para retorno à normalidade talvez fosse mais longo do que o período entre dois mandatos presidenciais. E é quase certo que entraríamos em uma guerra civil. Pelo tamanho de nosso país podemos demorar uma década ou mais para eliminar todos os possíveis focos de resistência que eventualmente surgiriam. A situação também poderia “evoluir” para pior, pondo em risco a unidade federativa.
Definitivamente não haverá ações precipitadas. Todas as possibilidades têm que ser esgotadas. Quem tem que decidir sobre isso o fará no momento correto e se realmente for necessário.
Editoria da Revista Sociedade Militar