Haverá luz no fim do túnel?
“Eles que venham! Por aqui não passam”
Emílio Luiz Mallet – Barão de Itapevi
Revista Sociedade Militar
Ao digitar a frase acima em qualquer mecanismo de busca a primeira resposta conduz a um link sobre o Marechal Emílio Luiz Mallet. Francês de nascimento, brasileiro por opção, vale a pena, para quem não esteja familiarizado em tempos de celebridades instantâneas, debruçar-se sobre a sua vida. A frase ele a proferiu para os seus subordinados, na expectativa da carga da cavalaria inimiga na batalha de Tuiuti, na Guerra da Tríplice Aliança. Emulou os homens sob o seu comando, após fazê-los cavar um fosso à frente da posição da bateria de canhões, onde as primeiras levas inimigas feneceriam.
Os homens de farda, em todos os tempos, buscam inspiração nos vultos da história militar, não só estudando as ações por ele empreendidas, assim como os atos de liderança por eles demonstrados no dia a dia.
Mallet é o patrono da artilharia brasileira. O General Mourão formou-se oficial de artilharia. Não sei se no comando anterior as unidades do Exército Brasileiro, sediadas na área do Comando Militar do Sul, utilizaram-se desta saudação. O certo é que as saudações militares habituais entre chefes e subordinados na área, atualmente, reproduzem o lema de Mallet: “Eles que venham!” Saúda o chefe! “Por aqui não passam”, respondem os subordinados.
Historiadores brasileiros não se familiarizam muito com temas militares. Este parece ser o caso do Sr José Murilo de Carvalho ao desenvolver o artigo intitulado Luz amarela, publicado na edição de 29 de outubro próximo passado, na página 19, dedicada a Opinião, do jornal O Globo.
Pretendeu o autor analisar, sob aspecto crítico, frases extraídas de palestras e entrevistas concedidas pelo General Mourão na sua área de atuação.
Já no primeiro parágrafo do seu artigo, mistifica e generaliza! Diz que há um consenso entre analistas políticos sobre o atual momento da crise brasileira: seria o silêncio das Forças Armadas com a ausência de manifestações de chefes de militares da ativa. Não se sabe exatamente onde o autor percebeu este consenso. Por outro lado, os chefes militares da ativa não têm se furtado a expressar suas opiniões e preocupações, quer para os seus comandados, quer para outros públicos, inclusive com entrevistas nos meios de comunicação. Basta pesquisar!
Equivoca-se no tempo e no espaço o autor do artigo ao ligar a “complementação” que o General Mourão teria feito à alocução alusiva ao Dia do Soldado deste ano de autoria do General Enzo! Falha grave, senhor historiador! Em agosto de 2015 fazia alguns meses que o General Villas Boas assumira o Comando do Exército. E, nesta situação, cita que o General Mourão fez um desafio: “Eles que venham”! Será que o historiador não conhece a frase do Mallet?
A seguir o autor tece considerações sobre o que seriam características do General Mourão para criticá-lo pelas opiniões expressas em entrevistas concedidas a respeito da reação democrática de março de 1964 e do regime de exceção que perdurou até 1985. Considera-o jovem à época para entender o fato histórico e julga-o influenciado pelo pai que teria sido um ativo participante do movimento. Eu diria que o General Mourão teve ótimos exemplos em sua casa, assim como, junto aos seus pares, estudou e recebeu informações suficientes durante os vários cursos da carreira militar pelos quais passou para entender claramente as diferentes tentativas históricas de tomada do poder pelos comunistas, assim como compreender a mudança gramscista efetuada para cumprir este desiderato. Assim, faço coro ao General Mourão: “Eles que venham! Por aqui não passam!” A “grande barreira” se interporá novamente!
O autor se declara “conhecedor” da alma dos soldados pelos contatos que têm com oficiais alunos da Escola de Guerra Naval. Assim avalia que as Forças Armadas tinham desde 1985 até agora um “comportamento quase modelar” posto que estavam voltadas para as atividades profissionais. Desculpem, mas vou para o popular: sabe nada, inocente! Os profissionais das armas jamais se afastaram das suas atividades precípuas, fazendo da criatividade a arma mestra para driblar a permanente escassez de recursos mínimos suficientes para manter o adestramento e a operacionalidade. Talvez o autor tenha pretendido se referir aos poucos brasileiros, militares e civis, agentes do Estado, que se dedicaram a combater a guerra interna desencadeada por insanos no período de 1968 a 1974. Foram derrotados. Hoje posam de democratas, mas no fundo pretendiam implantar uma ditadura do proletariado por aqui.
Finalmente o autor julga um perigo para as instituições o suposto envolvimento político das Forças Armadas. O historiador mistifica novamente. Sabe bem que a primeira providência do Presidente Castelo Branco foi aprovar uma lei de promoções de oficiais bastante rígida no que diz respeito ao tempo de permanência máxima dos generais da ativa em seus postos, totalizando um máximo de 12 anos, evitando desde então que, diferentemente do que até então ocorria, participassem da vida político-partidária da nação. Só não é possível pretender que um oficial da ativa deixe de ser exercer em sua plenitude a sua cidadania e o seu direito legítimo e constitucional de se expressar, em especial para transmitir suas idéias para os seus subordinados.
A luz amarela do autor do artigo acendeu-se, segundo ele, porque fez uma correlação entre os dois Generais Mourão. O atual e o do passado que, movido de coragem física e moral, iniciou a marcha da tropa sob o seu comando de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, desencadeando as operações militares da reação democrática de março de 1964. Tenho certeza que o atual orgulha-se do seu homônimo do passado.
Lastimo que a página de Opinião tenha sido ocupada para passar aos leitores do jornal O Globo tanta desinformação.
Marco Antonio Esteves Balbi – Coronel Reformado do Exército Brasileiro
P.S. O texto acima já estava mentalmente elaborado desde que li o artigo no jornal. Só hoje, madrugada de 31 de outubro, pude colocá-lo no papel.
Os senhores souberam que o Senador Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal oficiou ao Ministro da Defesa questionando sobre as manifestações do General Mourão. Não é de se estranhar. No passado do Senador ele exerceu importantes cargos e cumpriu perigosas missões atuando em organizações terroristas. Por sua qualificação os dirigentes das organizações decidiram retirá-lo do país, homiziando-o no exterior para só retornar quando a anistia já vigia. Espero que o Senador adote prática semelhante, por exemplo, com relação às constantes invasões de propriedades públicas e privadas por parte de integrantes de movimentos sociais. Espero, pois, que ele oficie ao Ministro da Justiça a respeito do assunto, que tanto desassossego causa à sociedade.
Por outro lado, as promoções de oficiais generais previstas para novembro impuseram algumas movimentações entre as quais a do General Mourão. O desafio será grande, pois, em tempos de crise econômico-financeira, será muito mais complicado para o General Mourão cumprir a missão diante das dificuldades orçamentárias, à frente da Secretaria de Economia e Finanças, do que adestrar a sua tropa nos campos de instrução. Mas, o artilheiro e paraquedista audaz a tudo superará. Parabéns pela missão cumprida e boa sorte no desempenho da nova comissão.
Revista Sociedade Militar – Rec. do Autor.