Generais são três patetas, inteligência das Forças Armadas é incompetente, Marinha envolvida em corrupção! Como isso pôde acontecer?
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Certamente a situação atual vivida pelas forças armadas seria interpretada como um verdadeiro desastre por aqueles que criaram os pilares que fundamentam toda essa estrutura. Aqueles que sempre defenderam que Forças Armadas se comportassem como instituições de estado e jamais como instituições de governo.
Muito recentemente, em setembro de 2019. a Revista Sociedade Militar publicou em primeira mão a noticia de que a força terrestre relançaria um livro de Gilberto Freire. Na obra Nação e Exército o autor chama de “socialmente enfermo” um povo que têm nos militares o paradigma do perfeito funcionamento das instituições e pilar da sua ideologia, moral, comportamento etc. Freire não critica as Forças Armadas, critica a tendência de se fazer dos militares uma espécie de TUTORES da SOCIEDADE, termo sempre utilizado pelo general Villas Bôas, ex-comandante do Exército Brasileiro. O autor, no citado livro, abraçado pela força terrestre, deixa claro que é prejudicial uma excessiva confiabilidade das atividades civis à administração de militares. Freyre deixa claro que para ele o indicio de que temos um “povo socialmente enfermo” (ou em um estágio de imaturidade) é quando este tenta delegar a condução do país aos militares.
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O fato da obra ter sido relançada bem recentemente em cerimonia militar, em setembro de 2019, foi por muitos interpretado como um sinal de que os generais desejavam se afastar definitivamente do governo. Que desejavam justamente impedir que crescesse essa fé de que são os militares que têm o dever de dar um jeito no Brasil.
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Quando leu a notícia em nosso site o jornalista Merval Pereira declarou que a Revista Sociedade Militar é Bolsonarista e chamou-nos de Blog. É praxe “global” tentar estigmatizar aqueles de quem discordam. Merval – diga-se de passagem – foi condecorado pelo Exército e pelo Superior Tribunal Militar bem recentemente. Ele também chamou atenção para os comentários de Olavo de Carvalho, que defende uma aproximação cada vez maior dos militares com Bolsonaro, e que também nos criticou, por motivos diametralmente opostos aos de Merval.
Mas, a coisa não aconteceu como se esperava, o afastamento não veio. Muito pelo contrário, de lá pra cá um grande número de oficiais generais, alguns da ativa, assumiram cargos no governo e o presidente da república passou a citar as Forças Armadas como uma espécie de fiadora de sua permanência. Não poderia dar em outra coisa. Generais passaram a ser cada vez mais solicitados pela grande mídia, agora as Forças Armadas são confundidas com o governo e dificilmente se desvencilharão em pouco tempo do estigma bolsonarista.
Um artigo publicado na grande mídia nessa quinta-feira chama a atenção pela extrema falta de respeito com que oficiais generais são tratados. Mas, será que isso ocorreria se as Forças Armadas não houvessem se deixado seduzir pelo “canto da sereia”?
Agora as ofensas que seriam dirigidas ao governo são dirigidas contra os militares. Afinal, é a mesma coisa!
Ao ser seduzidos pelo poder, se tornando também protagonistas dessa trapalhada que rapidamente lançou instituições permanentes, centenárias, com história inabalável, nunca derrotadas, na latrina da política brasileira, os generais contribuíram para rebaixar o status das instituições, para fazer com que praticamente todos os dias exista pelo menos uma nota negativa mencionando os militares.
Como se não bastasse, hoje ainda, o próprio Jair Bolsonaro permitiu que se publicasse nota onde chama a inteligência das Forças Armadas de BURRA, incapaz de lhe fornecer informações úteis …
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“… eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações…” disse o presidente.
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E – ainda tem mais – pra terminar essa terrível quinta-feira – jornais cariocas publicam denuncia gravíssima, que indica que um oficial de uma tradicional organização militar do Corpo de Fuzileiros Navais pode estar em um “arranjo” para receber dinheiro ilícito usando a Pandemia como alavanca para a corrupção.
Vejam a transcrição
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Militar: Deixa te falar contigo rapidinho. Você consegue três preços diferentes com três CNPJ?
Alessandro: Consigo! Tem aí o volume que precisa?
Militar: Vou ver o volume… vai ser um volume grande. Todo quartel. Mas vai ser pior, não precisa fazer licitação. Vai ser com urgência, entendeu?
Militar: Eu vou fazer contigo. Alessandro: Pensa nos dois. Bota na mesa.
Militar: Dá para todo mundo morder uma farpela. Eu vou mandar para você o que eu quero por e-mail ou mando pelo zap e você vai me mandar uma e-mail para mim formalizando com três empresas. Eu vou pegar a empresa mais barata e vou fazer a compra. Tem nada de mais não.
Generais, saiam desse jogo onde o povo sempre sai perdendo!
Depois de mais de 20 anos lutando para colocar as Forças Armadas no tipo da preferência nacional As Vossas Excelências seduzidas pelos cargos estão colocando tudo a perder. fazendo exatamente aquilo que sempre se lutou para impedir que acontecesse, estão transformando as Forças Armadas em instituições de governo.
Que saudade dos velhos militares!
Robson Augusto – Militar R1, jornalista // Revista Sociedade Militar